quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Teria sido um dia dos pais

Com um grande atraso, mas enfim, postado.

Já faz certo tempo que não escrevo para esse blog, não me lembro desde quando, mas nem precisa, para quem tem curiosidade é só olhar a data da postagem anterior, de qualquer forma, creio que tenha passado muito tempo. Mas o que me anima a escrever agora?
Busco partilhar um pouco da confusão de sentimentos que agora me apanha com força suficientemente contraditória para me trazer alegria e esperança sobre o futuro e me derrubar à cortante tristeza do passado. O que explica isso? Talvez eu possa me explicar, talvez com isso, eu me entenda.
O ser humano é o único animal, e para os mais religiosos, a única criação divina que tem certeza absoluta sobre sua morte. Isso talvez não surpreenda. Mas nos deixa perplexos o fato de que mesmo conscientes do nosso vindouro fim, conseguimos dormir, sonhar, sorrir, planejar, enfim, conseguimos viver sem que nossa existência transforme-se em uma verdadeira anarquia perante o apocalipse pessoal. A filósofa alemã Hanah Arent afirma que para se sobrepor ao fim inevitável o homem se imortaliza através de seus atos e os fixa na História. A História imortaliza os homens. Pois bem, a tentativa de se imortalizar nos faz esquecer nossa mesquinha mortalidade. Mas penso que antes de entrar nos Anais da história, o homem se imortaliza cotidianamente através de seus sentimentos que a vida – essa sim, uma entidade impossível de explicar – o faz experimentar. O amor, o ódio, a surpresa, a alegria, frustração, nos reinventa a cada aparição. E eis me aqui pensando nisso, e por quê?
Neste dia dos pais, serei um deles, serei festejado. Dessa vez deixarei de lado minhas críticas chatas de que se trata de uma data do capitalismo... quero comentar apenas que mesmo não tendo ainda estado frente a frente com Heloísa, minha filha, experimento um sentimento novo. Não tenho palavras para explicá-lo, mas utilizarei a música lembrada pelo meu amigo e concunhado “Dido” que diz: “Eu amo mais você do que eu”. Então isso direi a Heloísa quando nos encararmos pela primeira vez. Precisa dizer mais alguma coisa? Esse novo sentimento me revigora.
Porém... porém como estar apenas alegre...
A cerca de um ano meu pai, em saber que estive com o senhor. Em pensar em estar com o senhor e exprimir toda minha alegria desse momento. Ser filho e ser pai. Queria ser parabenizado pelo senhor como lhe cumprimentei naquele dia. Queria te mostrar Heloísa com orgulho e queria que tivesse orgulho desse momento que nunca experimentarei. Queria dizer que seria um pai como o senhor, comentar as suas desventuras e dizer que poderia fazer diferente, seria melhor; falar que o senhor deixou de ser meu herói a muito tempo; pois o senhor é homem, como eu agora serei o super-herói; e quando um dia me tornasse també um homem de carne e osso você também riria de mim. Mas antes de rir, você diria que havia me alertado de tudo, mas que para um herói vulnerável como tinha sido, o senhor me tornou o homem que sou e o pai que estava sendo; os heróis todos iriam sentir inveja desse momento, pois só nós de carne e osso podemos rir e não nos envergonhar de nossas fraquezas, pois somos homens, somo pais e por isso somos amados. Isso teria ocorrido.
Por isso....
Pai, como gostaria de te dizer que também sou um pai, exprimir minha alegria.
Pai, como tem sido duro viver sem o senhor, pois mesmo quando não te procurava, sabia onde te encontrar. E o senhor estava à minha espera.
Talvez esse seja o segredo de tudo. Eu tive que deixar de ser filho para me tornar pai; e assim nos imortalizamos.